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*Nota de editor:* Devido à existência de erros tipográficos neste
texto, foram tomadas várias decisões quanto à versão final. Em
caso de dúvida, a grafia foi mantida de acordo com o original.
No final deste livro encontrará a lista de erros corrigidos.

Rita Farinha (Jul. 2009)




BIBLIOTHECA DO CURA DE ALDEIA


D. MARIA AMALIA VAZ DE CARVALHO


MULHERES E CREANÇAS

(NOTAS SOBRE EDUCAÇÃO)


Editores--JOAQUIM ANTUNES LEITÃO & IRMÃO
Rua do Almada 209--1.^o andar
PORTO




MULHERES E CREANÇAS




A propriedade d'esta obra pertence:

Em Portugal á _Bibliotheca do Cura de Aldeia_.

No Brazil ao snr. Adriano de Castro, residente no Rio de Janeiro.




BIBLIOTHECA DO CURA DE ALDEIA

MARIA AMALIA VAZ DE CARVALHO


MULHERES E CREANÇAS

(NOTAS SOBRE EDUCAÇÃO)


PORTO
Editores--JOAQUIM ANTUNES LEITÃO & IRMÃO
Rua do Almada 209--1.^o andar
1880




TYP. DE ALEXANDRE DA FONSECA VASCONCELLOS

29, Rua do Moinho de Vento, 29




Á

Minha querida mãe


_Companheira constante e fiel de toda a minha vida, offereço-lhe este
livro humilde, que escrevi inspirada pelos seus conselhos e pelo seu
santo e nunca desmentido exemplo._




CAPITULO I


Falla-se hoje muito a respeito da dissolução domestica, manifestada e
provada constantemente por casos de divorcio, suicidios, questões
miseraveis entre parentes proximos, rebelliões filiaes, etc., etc.

Surprehende a todos aquelles, que sem aprofundarem radicalmente as
questões sociaes, se preoccupam todavia com ellas um pouco mais do que o
vulgo, que este mal que todos sentem e que poucos definem, que este
estado inquieto e doloroso que depois de agitar a familia assusta e
perturba a sociedade, se haja aggravado justamente na época em que o
homem auxiliado por grandes e immortaes pensadores, tem adquirido a mais
elevada e justa noção do Bem que ainda lhe foi dado alcançar no seu
caminho de seculos.

A manifesta e clara contradicção que hoje mais do que nunca existe entre
as idéas e os factos desnorteia e desanima ainda os espiritos mais
penetrantes.

Como é que o homem que tem domado a materia a ponto de fazer d'ella a
escrava submissa da intelligencia; que forçou a grande e muda Natureza a
tornal-o seu confidente e seu senhor; que arrancou ao astro e á planta o
segredo immortal da vida que os anima; que penetrou--investigador
implacavel--nas catacumbas das mortas religiões, e que ouviu de cada uma
a palavra suprema que as explica e desvenda; porque é que o homem que
tem hoje a percepção lucida e completa do seu destino, não soube ainda
prostrar, vencer, amordaçar o animal indomito que vive dentro d'elle,
que o martyrisa, que o rebaixa, que o leva muitas vezes ao abysmo,
quando o não leva ao lodaçal? Se o bom e o bello lhe revelaram a sua
larga claridade benefica, porque se não revigora elle, e se não
robustece n'esse grande banho de luz? porque não estabelece uma harmonia
perfeita e intima entre a idéa que fórma dos deveres e a sua
manifestação pratica e vizivel?

Depois de havermos concedido ás paixões humanas o imperio relativo que
ellas não podem perder, somos ainda forçados a confessar que na culpa
d'esta desgraça que todos lamentam, compete ás mulheres um grandissimo
quinhão.

Concorrem ellas em grande parte para dar força ao impulso que contraria
a marcha triumphante e apesar de tudo invencivel, que leva a civilisação
no caminho da verdadeira luz. E concorrem por varias e complexas razões
que devem analysar-se e depois combater-se.

Ignorantes impoem resistencia inconsciente ás transformações continuas
do progresso.

Retrogradas por educação e por natureza, cada innovação se lhes affigura
ou uma cousa inutil, ou uma cousa perigosa.

Amesquinhadas pela profunda escuridão intellectual em que jazem
immersas, em vez de auxiliarem o homem no cumprimento difficil do dever
afastam-no pelo desdem, desanimam-no pela frivolidade, cançam-no com as
exigencias loucas, gastam-lhe a força, o alento, as aspirações arrojadas
e grandes na satisfação de desejos pueris, ou lhe destroem a dignidade e
lhe annullam a energia obrigando-o a transigir com os desvairamentos
d'uma imaginação doentia.

Mas se as mulheres produzem este effeito funesto confesse-se para bem da
justiça que aos homens se deve o atrazo intellectual em que todas nós
estamos.

Sentem elles, e a meu ver sentem muito bem, que para conservar este
equilibrio necessario á manutenção da ordem na familia e na sociedade,
cumpre que a mulher se não revolte contra a inferioridade a que
fatalmente a condemnam as leis, e contra a dependencia a que a condemnam
os costumes.

Para alcançarem porém esta submissão voluntaria entenderam desde muito,
que o melhor meio consistia em condensar as trevas da ignorancia e da
superstição em torno d'aquella de quem são forçados a fazer a sua
companheira na vida, o seu consolo nas horas da provação, a mãe de seus
filhos, a carne da sua carne.

Terrivel contradicção, systema absurdo que tem como resultado a lenta
desorganisação da familia e que corrompendo a mulher atravez do homem,
não póde deixar d'ir com o andar dos tempos corrompendo o homem atravez
da mulher.

D'um lado querem conservar-nos n'uma plana muito inferior á sua, como
illustração, conhecimentos, intelligencia, isto para que nunca nos venha
á idéa aspirar á perfeita igualdade dos direitos e dos privilegios;
d'outro lado exigem de nós prodigios de virtude, de abnegação, de
paciencia, de que só são capazes as almas bafejadas pelo sopro ideal da
eterna Perfeição.

A mulher precisa de ser moralmente mais forte do que o homem, para
conseguir levar a cabo a tarefa relativamente superior que a natureza e
a sociedade lhe impoem.

No dia em que se assentar este ponto como verdade incontestavel, o mundo
terá dado um dos seus passos mais gigantescos no caminho da felicidade.

Educar a mulher eis o grande problema que resta ainda a resolver.

Educar a mulher é arrancal-a na infancia ao seu berço fôfo e tepido de
beijos, e leval-a por caminhos d'uma magestade austera que ella nunca
trilhou.

É preparal-a para a grande lucta moral que é a Vida, com os cuidados com
que Sparta, a guerreira cidade antiga, preparava os seus filhos para as
luctas do corpo, para as victorias da destreza physica.

É associal-a pela comprehensão e pela sympathia a todos os trabalhos e
investigações do homem moderno; é dar-lhe ao lado d'este um lugar
honroso e definido, não egual pois que são diversas as attribuições de
ambos, mas equivalente em direitos e em deveres.

É fazer-lhe comprehender bem claro que as seducções do corpo--seu
orgulho supremo e seu constante desvanecimento--quando não são reflexo
da formosura e da robustez da alma, não passam d'um laço ignobil armado
ao animal malefico e bravio que todo o homem encerra em si.

Educar a mulher é leval-a a compenetrar-se do seu papel providencial na
familia, e achal-o grande, util, elevado, digno de saciar as mais
levantadas ambições, e tambem--o que é d'uma importancia capital--de
pezar como uma responsabilidade tremenda no animo mais altivo.

É dar-lhe uma idéa perfeita do dever e da justiça, um Ideal a que tendam
incessantemente as aspirações do seu espirito, uma religião que a
hypocrisia e os calculos interesseiros não maculem nem amesquinhem, que
se resuma para ella no sacrificio e no amor, mas sacrificio sem
voluptuosidades dissolventes e amor sem extasis hystericos e sem raptos
de paixão sensual.

Não basta porém exprimir tudo que se ousa esperar da mulher de ámanhã, é
preciso tambem lançar um olhar demorado e justo ao que é a mulher
d'hoje.

Só assim poderão comprehender-se os erros que é preciso desarreigar, os
preconceitos que é indispensavel destruir, a distancia enorme que temos
de transpôr para chegar ao momento da sua completa e salutar
transformação.


II

As divisões sociaes que hoje em face dos homens educados nos mesmos
collegios, nas mesmas academias, nas mesmas escolas superiores, quasi
que se não distinguem, ou se distinguem apenas por ligeiros cambiantes
imperceptiveis ás vistas superficiaes, imperam ainda na mulher com
extraordinaria força. Vamos pois procurar ás diversas classes as suas
femeninas representantes, e pincipiemos pela mulher da classe media,
classe que considerada no seu elemento masculino representa a
intelligencia, a riqueza, o commercio, a industria, o progresso d'um
paiz.

A mulher d'essa classe especial divide-se em dous generos
accentuadamente distinctos: aquella que as vaidades sociaes ainda não
corromperam, e aquella que pretende offuscar com os deslumbramentos da
sua opulencia, as finas graças, as exterioridades elegantes, os
requintes herdados e tradicionaes que pompeiam nas regiões mais elevadas
da sociedade.

A primeira é evidentemente mais sympathica; é laboriosa e tem a rude
sensatez plebeia da sua raça. Tem o amor dos filhos, um amor animal, um
amor physico, mais instincto do que religião. Não raciocina mas sente
com uma energia poderosa e creadora.

É d'uma ignorancia absoluta, ingenua, profunda, quasi sublime na sua
cegueira. Imagina-se porém investida d'um dever supremo a que todos se
subordinam:--o de proporcionar por todos os meios ao seu alcance o bem
estar material do marido, e da familia.

Não tem conversação, não tem espirito, não tem aquella doçura benevola e
intelligente que é para o coração dos homens o que o algodão em rama é
para o ninho das aves.

Quando aconselha irrita; quando quer guiar contraria, quanto tenta
convencer, despersuade.

É porém activa, aceada, robusta, fiel, e nas horas de adversidade, de
doença, de desfallecimento ou de miseria, tem os carinhos rudes, tem a
dedicação humilde, tem a vigilancia perseverante, tem o exemplo energico
e fecundo por isso mesmo.

O homem anda lá fóra, na lucta, no trabalho, na investigação, na
sciencia; vae vivendo e vendo como n'uma ascensão rude, desvendarem-se
todos os dias horisontes novos, vae estudando e sentindo como n'uma
iniciação progressiva dilatar-se-lhe o espirito, clarear-se-lhe o
entendimento.

Ella a esposa, a sua companheira, a sua melhor amiga, ignora os seus
combates, as suas glorias, as acres delicias do seu sacrificio, os
desanimos, as horas de impotencia, as aspirações, os arrebatamentos
triumphantes da victoria.

Percebe simplesmente se o marido está doente, se anda magro, se tem
fastio, se tem roupa branca.



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